20 maio 2008

Dissecando a cinematografia

Gosto de um filme quando é feito plano a plano, onde cada um destes quadros é trabalhado exaustivamente até à perfeição, sabendo que cada plano tem a sua razão de ser e não está lá apenas a encher.

Torna-se importante criar e recriar ambientes, espaços, acção, emoção, sentimentos, tudo em apenas alguns segundos ou minutos, tornando-os peças de verdadeiro culto, de excelência fotográfica, pintando com luz cada fotograma como se tratasse de um Vermeer, Rembrandt ou um Caravaggio. Cada imagem contém formas, volume, profundidade de campo, de forma a captar aquele momento mais especial. Se fosse uma fotografia estariamos a congelar um determinado tempo e espaço, mas cinema é imagem em movimento, o que não deixa de ser fotografia porque, aliás, este movimento é captado por fotogramas, cada um equivale a uma fotografia, frame a frame, 25 imagens por segundo e temos o nosso movimento contínuo.
Gosto de um filme quando o tempo de cada plano é o indicado para passar a mensagem do mesmo, quando o tempo em exposição condiz com o tempo de leitura ideal, nem menos, nem mais. Os planos podem ter 2 segundos, 10 minutos ou 3 frames desde que tenha a sua intenção marcada, que mostre o conteúdo e o significado daquela imagem ou conjunto de imagens. E digo isto não puxando a brasa à sardinha de Oliveirismos, cada qual observa ou produz cinema como quer.
Gosto de um filme quando um plano não se esgota apenas na imagem, mas sim em tudo o que lhe rodeia, o som ambiente, a música, os diálogos, ou até mesmo o que fica para além do que é captado, isto é, todos nós temos a percepção de que existe mais alguma coisa fora do quadro, fora de campo como se costuma dizer. Se estamos a assistir a um diálogo numa cena e o plano está fechado na cara de uma das pessoas, continuamos com a percepção de que continua a falar com a mesma pessoa mesmo não a vendo; sabemos também que o espaço físico em redor também continua lá.
Afinal de contas o que cria uma imagem tão bela, tão cheia de formas, de volumes, de sombras?
É a luz. Desenha-se luz. A luz é para um Director de fotografia o que é um pincel para um pintor.

Agora que vemos a imagem com outros olhos vejam realmente o que é um bom filme.

2 comentários:

Mãos de Veludo disse...

concordo!! tens ai um dos meus filmes favoritos, exactamente pela fotografia: Rapariga com brinco de pérola... é lindissimo!! =D

rock disse...

E fala um entendido :) eu vou para "o fabuloso destino de Amélie Poulain", mas confesso que não vi esse e já me disseram que era muito bom! jinhos para os dois :)