03 março 2006

Alguem morreu ao meu lado

Hoje com 22 anos de idade, come�o a pensar at� onde � que a vida nos leva. Sabendo, no entanto, que mais dia menos dia deixamos de existir deste nosso conhecido mundo, deixando para tr�s apenas a mem�ria nas mentes das pessoas mais chegadas e talvez com sorte deixaremos uma gera�?o, uma heran�a, um filho.
Isto tudo porque sei que a idade avan�a e s� me resta ter esperan�a de conseguir realizar todos os meus objectivos e desejos antes mesmo de deixar este mundo. Mas ser� que a vida do Homem � s� isto? - Ser� apenas sentir-se realizado no fim de tudo?


Alguem morreu ao meu lado...

1 de Mar�o de 2006
Intendente, Lisboa


Anteontem, como todos os dias de trabalho, um dia como tantos outros que teimam a passar devagar no seu pr�prio espa�o e tempo ca�tico. Revelando sempre os mesmos rostos, iguais, indiferentes, sem express?o, apenas vultos que se vao movendo de um lado para o outro.

Fui almo�ar, como sempre, ao restaurante "Paris", um g�nero de pastelaria/caf� que acaba por aproveitar o bom geito do cozinheiro para uns bons almo�os. E talvez por se chamar "Paris" me leve muitas vezes a pensar que afinal nao estou na rua Almirante Reis mas sim dentro de uma pequena pastelaria com vista para Les Champs Elys�e a comer um belo croissant, e tudo isto somente ao olhar para os paineis de azulejos com as figuras e ruas de Paris nas paredes do caf�. Devo frisar que o almo�o � sagrado, � aquele tempo que os trabalhadores tem para descomprimir, isto �, deixar de pensar no trabalho e apenas concentrar-se no seu prato. Tornando-se na melhor altura do dia, mesmo para quem almoce sozinho, tal como eu, porque acabamos por sair daquele restaurante e voamos ao sabor das especiarias que vamos pondo na boca.

Mas ontem foi diferente, n?o consegui pensar somente no prato a minha frente e isto porque na mesa ao meu lado estava um casal de idosos que se preparava para comer a sua tao desejada refei�ao. Eu por outro lado, enquanto esperava o meu prato ia divagando fora e dentro daquele microcosmos j� meu conhecido. A refei�ao do casal mal tinha acabado de chegar quando a senhora se ausentou do seu companheiro para ir a casa de banho, o senhor enquanto esperava foi comendo. Entretendo, j� eu comia e a senhora ainda nao tinha voltado. Vi claramente o panico nos olhos do senhor que j� tinha retra�ado metade do seu prato e que entretanto tinha parado. Estava ansioso, ofegante e preocupado. J� n?o tirava os olhos da casa de banho enquanto n?o visse a sua mulher a sair de l�. At� comecei a ficar ansioso, estive mesmo para perguntar ao senhor se queria que eu l� fosse ver se estava tudo bem, quando o homem devagar dirigiu-se a casa de banho para ver se estava tudo bem.
� claro, pensei o pior. Mas deixei-me estar sentado a engolir o que quer que fosse pois j� nao me lembro o que estava a almo�ar.
Chegaram, sentaram-se ? mesa, aparentemente estava tudo bem. A senhora provavelmente j� comeu a sua refei�ao fria e sem vontade pois deixou metade no prato. O marido, como � obvio, j� nao voltou a tocar no prato pois perdeu a vontade com toda aquela preocupa�ao.
Ser� isto que nos resta no final das nossas vidas? A toda a hora, a todo o minuto, a todo o segundo recear a morte? Saber que o companheiro/a est� l� e no minuto seguinte j� nao estar?
Bebi um caf�, fumei um cigarro e voltei ? minha vida...

2 comentários:

Ivan Martins disse...

Vais ter uma vida longa, vais. A fumar dessa maneira n?o chegas aos 40.

SinemaS disse...

Em vez de pensares no meu vicio, devias era tar preocupado com a gripe das galinhas que anda por ai!!