12 setembro 2007

A viagem mais longa da minha vida

O relógio do meu computador marcava 3h.26min., tinha acabado à pouco o trabalho que me tinham incumbido de fazer. Olhei para as horas, a febre estava a subir e nada podia fazer. Levantei-me da cadeira e procurei despachar-me dali o mais rápido possível. Peguei no meu telemovel e marquei o número do meu patrão:
- Estou? É o Ricardo. Olha já acabei o trabalho... Estava à tua espera para que tu o visses para podermos fechá-lo... Pois. Sim eu sei. Mas olha telefonei-te para avisar que tou cheio de febre e vou ter de sair, ok? Sim. Obrigado! Até manhã então.
Agarrei nas minhas coisas e zarpei dali para fora.
O suor escorria-me pela cara, o corpo parecia ceder, mas a minha cabeça insistia em continuar. Comecei a andar, quase sem pensar, como quem liga o piloto automático, os passos sucediam-se um atrás do outro até que de repente dei por mim estava a caminhar para o lado errado - onde é que eu tou a ir? tou parvo? - a mente já me pregava partidas.
De volta ao caminho correcto depressa alcancei a paragem de autocarros. Esperei como tantas outras pessoas que lá estavam. Os óculos escuros deviam disfarçar o meu ar lunático. Não conseguia focar nenhuma cara mas tentava esforçar-me ao máximo para transparecer a minha normalidade - Foda-se!!! Eu devo estar branco como à cal! Qué da merda do autocarro? Tou aqui à horas - o meu nervosismo já se misturava com o calor intenso do interior do meu corpo.
15 minutos à espera pareceram uma eternidade. Entrei para dentro do autocarro apinhado de gente - tou com sorte!!! Nem a puta de um lugar! Um gajo aqui quase a cair para o lado e ainda tem de gramar uma viagem agarrado a um ferro, só comigo! - depois de muita apertadela e encosto lá me consegui sentar num banco. Já só pensava em chegar a casa.
Quando tudo parecia estar certo eis que o motorista pára o autocarro e manda as pessoas sair, afinal aquele autocarro não ia até onde todos nós pensávamos que ia, ele bem estava identificado mas a minha visão pregava-me partidas. Saí. Estava mal, o ar-condicionado do autocarro só ajudou para sentir agudos arrepios pela espinha.
Procurei o metro mais próximo, via pessoas, via carros, via a azáfama típica de Lisboa. Tentei concentrar-me o mais possível para não voltar a ser atraiçoado pelos meus sentidos. - Vá lá, só preciso de uma estação de metro. Está quase! - Depois de uma ou duas ruas, lá encontrei a tão esperada escada para o Metro. Movi-me o mais depressa possível.
Dei por mim mais uma vez de pé, o metro também estava à pinha, quase que me arrisquei a ficar do lado de fora. - Mas o que se passa com esta gente? Hein? Não deviam estar na praia? No Trabalho? Num centro comercia? Porquê???.
Depois de uma ou duas estações deparei-me com a seguinte questão: - Vou para que casa? A de cá de Lisboa? Ou a de Torres?
A resposta foi instantânea: Vou para CASA!
Após 15 minutos lá cheguei ao fim da viagem de Metro, olhei para o relógio na esperança de saber se tinha algum autocarro pronto para arrancar para Torres, mas ter olhado para o relógio era o mesmo que não ter olhado.
Cheguei à paragem, - Que sorte!!! Tá cá um!!! - entrei e sentei-me num lugarzinho. Esperei.
Passados mais uns quantos minutos, que para mim todos estes minutos somados já dariam dias e dias de sofrimento, o calor, a febre, os calafrios, o sono... deixei-me dormir na esperança que espantasse de certa forma a gripe. Mas fiquei sempre em estado de alerta. - Se eu cair para o lado aqui é uma barraca! Cof Cof! Nunca mais chegamos?!? Não aguento mais! - Mais um lenço que usava para me assoar, devia ser o 10º do dia.
Ao fim de 45 minutos cheguei a casa.
- Que tás a fazer cá? Não devias tar a trabalhar?
O meu olá à minha mãe foi com um grunhido.
- Tou doente...
Descansei, tinha chegado a casa e já não havia motivo para preocupações, afinal não há nada como ter a nossa mãezinha querida para nos tratar em momentos destes. - Menino da mamã? É claro que sim! Quem é que diz o contrário?
Hoje já estou melhor. Acho que só precisava de um pouco descanso. Amanhã já tudo volta ao normal, pelo menos assim espero.

1 comentário:

Little Miss Starlight disse...

There's no place like home... Acho que fizeste muito bem! :)**